A chave

Chegando após uma longa odisseia de domingo. Sim, finalmente me encontro em casa. Geralmente é na madrugada de sábado para domingo que eu digo:  'é, mais uma madrugada estranha'. Desta vez foi diferente. A madrugada de hoje que, sim, foi estranha.

Mas a história começa bem antes, às 17horas e 30 minutos. Esse deveria ser o horario que eu deveria subir para ver o show. Pequenos atrasos, fui sair de casa apenas as 18 horas. Na viagem, eu e mais três amigos.  O 'capitão' do carro decidiu ir por um caminho para chegar até a estrada. A 'grande' escolha deu na saída do jogo entre Santos e Palmeiras, que congestionou a avenida.

Mais um pouco de atraso. Estrada tranquila até chegar em São Paulo. Até na Capital o trânsito estava numa boa. A informação que recebo é que o show do Avenged Sevenfold só vai começar às 21 horas. São apenas 19h20. Temos tempo.

Bom, chegamos em 90% do traçado. O 'capitão' diz: 'agora não preciso do GPS, eu sei por aqui. É só virar nessa rua'. Pronto, voltamos para a avenida anterior e vimos o Credicard Hall começar a ficar para trás. Até aí, já eram 20 horas. Mais umas voltas e chegamos.

Ao invés de parar no estacionamento do local, devido a informações de terceiros que diziam que o preço para deixar o carro lá poderia ser de 50 reais, fomos estacionar em um estacionamento próximo ao Credicard Hall,  por 30 reais. Outro erro, já que o estacionamento do local estava o mesmo valor.

Bom, passado tudo. Entramos sem filas, nem tumultos. Algo estranho. Sem pressa, ainda fomos beber algo e entramos na pista. Nem cinco minutos lá dentro e começa a tocar 'The Sound Of Silence', de Simon & Garfunkel. A canção é a introdução do show do Avenged Sevenfold.

Mas, espera um pouco. O show não começaria às 21 horas? São 20 horas e 20 minutos! Sim, o 'capitão' estava enganado, mais uma vez. Até que, durante a música, a guitarra rasga a calma canção, cortinas abrem e M. Shadows entra no palco.

Primeira canção, Nightmare. Perfeita, galera toda pulando e gritando durante todo o tempo. No início da segunda música, 'Critical Acclaim', o 'capitão' surge com outra novidade. 'Cara, perdi a chave do carro'. Esta frase seria o início da dor de cabeça.

Voltando ao show, foi fantástico. Como tudo que é bom, dura pouco, a apresentação não foi muito longa. Mas, teve de tudo. Clássicos como 'Unholy Confessions', 'Bat Country', 'Beast And The Harlot' e 'Afterlife'. Músicas novas como 'Welcome To The Family', 'God Hate Us', 'Buried Alive', 'So Far Away', 'Fiction' e 'Save Me'. Até roda punk teve, influenciada pelo próprio Shadows.

É incrível como o som ao vivo é tão bom quanto o de estúdio. Até a voz nos agudos do vocalista é perfeita. O novo baterista não é o falecido 'The Rev', mas ainda assim, manda muito bem. Enfim, foi algo demais. Quem foi, com certeza, não se arrependeu. Só de lembrar dá vontade de ir novamente.

Ao final do show, volta o drama. A chave do carro havia sumido mesmo. Agora, me respondam, como procurar uma chave em meio a milhares de pessoas. Não há condições. Simplesmente, não há. Entre ligações para um lado e para o outro. Ficou decidido: 'O seguro enviaria um taxista para trazer a chave reserva de Santos até o local onde estava o carro'.

Por um milagre, o estacionamento escolhido não fechava meia-noite. Logo, poderíamos ficar por ali. Eram 22 horas e 30 minutos quando ouvimos isto. Após 1 hora de enrolação, conseguimos convencer o 'capitão' a ir comer num posto ali perto. Naquele ponto, as roupas molhadas de suor já estavam secando no corpo e o frio deixava tudo pior.

Por volta de meia-noite, vem a confirmação. O taxista tinha acabado de pegar a chave reserva e estava em direção ao local. Ainda enrolamos até meia-noite e meia no posto. Após um banquete de refrigerante e salgadinhos, voltamos ao estacionamento.

Esperamos. Conversamos sobre tudo, faltou assunto, e ainda esperamos mais um pouco. Às 2 horas e 15 minutos aparece o 'salvador' com a chave. Já que o 'capitão' iria para outra cidade e estava muito tarde para ir para casa de outro amigo, em São Paulo, eu e outros dois amigos decidimos pedir carona até Santos para o taxista. Para nossa surpresa, ele aceitou, sem reclamar.

Que aventura. Embriagado pelo sono, o motorista me fez, a cada quilômetro, temer um pouco mais pela minha vida. Mas, confiante e sonolento, lá foi ele cortando a rodovia Imigrantes. Sempre em ziguezague, jogando o carro de um lado para o outro e acordando a cada vez que a roda passava por cima do 'olho de gato' na pista.

Com um certo desespero, começamos a falar sobre qualquer coisa no carro, até sobre pontes, para o motorista não cair no sono profundo. Por uma vez, vi uma mureta de proteção próxima demais da minha face. Mas, segurando a emoção firme, chegamos em Santos. Após mais uns sustos pelo caminho, chegamos até a casa de um amigo.

A descida daquele carro foi a maior sensação de alívio na minha vida em anos. Por fim, fomos até o McDonald's para comer aquele lanche básico. Queríamos desfrutar dos pequenos preços impressionantes do fast-food, mas já tinha acabado a promoção. Após comer, finalmente, voltamos para casa. Depois de tantas emoções, positivas e negativas, agora chegou a hora do descanso.

Tudo isso graças a uma maldita chave, presa a um chaveiro de 'bola 8' de sinuca que deve estar rolando até agora pelo chão do Credicard Hall. Era para chegarmos cedo a casa do nosso amigo. Dormir por lá e, pela manhã, retornar. Mas, não foi possível. Maldita chave!


"Gave you all I had to give
 Found a place for me to rest my head.
 While I may be hard to find
 Heard there's peace just on the other side.
 Not that I could
 Or that I would
 Let it burn
 Under my skin
 Let it burn"
 (Avenged Sevenfold - Fiction)

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