Momento poético - parte dois

Novamente, após quase três meses, não irei escrever sobre algo. Ficar me alongando em linhas e linhas sobre algum tema. Mais uma vez, vou deixar para os leitores um pouco mais de cultura. Algo que possa enriquecer a mente.


Hoje, escolhi um poema de Carlos Drummond de Andrade. Mineiro de Itabira, faleceu aos 84 anos, no Rio de Janeiro. Foi um dos fundadores de 'A Revista', responsável por divulgar o modernismo. Embora tenha sido um dos grandes nomes da literatura brasileira, exerceu a função de funcionário público.


Em sua cidade natal, seu nome foi dado a biblioteca e ao teatro da cidade. Em Porto Alegre, o poeta está representado na estátua 'Dois poetas, junto de Mário Quintana. Entretanto, a escultura mais famosa está localizada na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, a qual foi dada o nome de 'O Pensador'.

Apesar de ser muito lembrado pela poesia 'No Meio do Caminho': "No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho", escolhi outro texto para postar. É um pelo poema, intitulado 'Eterno'.

 E como ficou chato ser moderno.
Agora serei eterno.

Eterno! Eterno!
O Padre Eterno,
a vida eterna,
o fogo eterno.

(Le silence éternel de ces espaces infinis m'effraie.)

— O que é eterno, Yayá Lindinha?
— Ingrato! é o amor que te tenho.

Eternalidade eternite eternaltivamente
                   eternuávamos
                           eternissíssimo
A cada instante se criam novas categorias do eterno.

Eterna é a flor que se fana
se soube florir
é o menino recém-nascido
antes que lhe dêem nome
e lhe comuniquem o sentimento do efêmero
é o gesto de enlaçar e beijar
na visita do amor às almas
eterno é tudo aquilo que vive uma fração de segundo
mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma
                                                força o resgata
é minha mãe em mim que a estou pensando
de tanto que a perdi de não pensá-la
é o que se pensa em nós se estamos loucos
é tudo que passou, porque passou
é tudo que não passa, pois não houve
eternas as palavras, eternos os pensamentos; e
                                                passageiras as obras.
Eterno, mas até quando? é esse marulho em nós de um
                                                mar profundo.
Naufragamos sem praia; e na solidão dos botos
                                                afundamos.
É tentação a vertigem; e também a pirueta dos ébrios.
Eternos! Eternos, miseravelmente.
O relógio no pulso é nosso confidente.

Mas eu não quero ser senão eterno.
Que os séculos apodreçam e não reste mais do que uma
                                               essência
ou nem isso.
E que eu desapareça mas fique este chão varrido onde
                                               pousou uma sombra
e que não fique o chão nem fique a sombra
mas que a precisão urgente de ser eterno bóie como uma
                                               esponja no caos
e entre oceanos de nada
gere um ritmo.

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